UM BRINDE AO JULGAMENTO DO MENSALÃO – Ironicamente deveríamos erguer um brinde com Romanée Conti ao julgamento do Mensalão – Vocês lembram quando Duda Mendonça fazendo marketing para Lula brindou a sua vitória nas urnas com um brinde de Romanée Conti?! Escrevi na época esta pérola, claro, em contestação!!!

ROMANÉE CONTI: O VINHO DAS ELITES

Em Côte de Nuits, Borgonha, na França, no exíguo espaço de 24.85 hectares são produzidas algumas cepas que permitem a fabricação de alguns dos vinhos mais finos e requintados do mundo. São eles o Romanée Conti, Romanée Saint Vivant, Grands Échezeaux e Riche Bourg, entre outros.

Dentro desses hectares, 1 hectare e 60 ares são dedicados com exclusividade ao cultivo das uvas Pinot Beutot e Pinot e Pinot Liébault, que de acordo com o decreto de 11.09.1936, servem para fazer o famoso Romanée Conti . Este vinho, conforme requisito pré-estabelecido pela lei francesa que regula a matéria, deve ser guardado para sua plena maturação pelo espaço de tempo que medeia entre 10 à 30 anos para atingir um refinado apuro e assim a condição de ser degustado. Obedecendo a uma técnica artesanal que remonta ao século XIV são produzidas anualmente 6000 garrafas deste precioso vinho. Para adquirir exemplares os eventuais compradores estão obrigados, quando da aquisição, a comprar, no mínimo, uma caixa com 12 garrafas, entre as quais está uma do néctar dos néctares, o Romanée Conti. A caixa poderá ser adquirida diretamente na adega pelo preço de 3000 euros sendo que no comércio, depois de passar por todo o processo de intermediação, cada garrafa, por exemplo, da safra de 1997, poderá atingir ao preço de R$6000,00 a R$7000,00 reais. Logicamente os vinhos mais antigos e, a adega possui safras que remontam ao início do século, podem vir a atingir cotações astronômicas.

Frank Sinatra, o rei da Jordânia Hussein, Barbra Streisand, Donald Trump e Paul Mc Cartney são referidos entre aqueles que tiveram a suprema ventura de desfrutar a quintessência desta verdadeira poção mágica digna de Baco.

Todos eles poderiam ser apontados como participantes das elites. Alguns, a maior parte dos citados, cantores de sucesso, outro um potentado da nobreza hereditária árabe e o derradeiro da nobreza dos “nouveaux riches” imobiliários americanos. Todos eles membros da invejada elite. Aquela que pelo sucesso do seu trabalho ou do trabalho dos outros (da geração anterior) conseguiu atingir a plenitude do conforto material onde num mundo atual as maiorias vivem as agruras da exclusão total. Como diriam alguns companheiros, citando Marx, eis o produto da malfadada “mais valia”.

O brinde de vinho, desde a mais remota antiguidade, sempre foi usado pela humanidade como símbolo de bons augúrios, de celebração da paz, de consórcios matrimoniais, de alianças e inclusive foi a forma, pão e vinho, de celebrar para a eternidade, através da reiteração semiótica da santa missa, pelos milênios, a eucaristia divina.

Este é o lado sublime do brinde que pela alquimia da vida, como ela é, pode ter o seu lado inverso maniqueísta, o do mal. Foi assim com Judas que não celebrou a salvação mais a traição ao preço de 30 moedas.

Continua assim através dos séculos quando as nações, as famílias e pessoas, para o bem, celebram sua felicidade e suas vitórias. Para o mal, quando se persevera, usando o sacro vinho, para brindar ao ato maquiavélico de apunhalamento das instituições de sua pátria, para saudar a corrupção da democracia, o estelionato eleitoral, o caixa dois, a lavagem de dinheiro ou a sonegação fiscal, sorvendo o vinho dos vinhos feito com o sangue macerado de seu povo.

PROF. SÉRGIO BORJA – Professor de Direito da UFRGS E PUC/RS.

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