O EFEITO TRIFFIN SOBRE AS BOLSAS
Prof. Sérgio Augusto Pereira de Borja
O que está acontecento com as bolsas?! Esta é uma questão que todos desejariam ver elucidada.
Todas as pessoas estão condicionadas por um senso de percepção espacial. Um filling de sintonia grossa. Poucas pessoas utilizam
numa visualização holística, integrando à sua noção de percepção espacial, o fenômeno temporal, aprimorando assim, sua sintonia
fina.
Assim é que o diagnóstico feito com relação as bolsas, até agora tem sido equivocado. Ou por falta de perspicácia ou por rotunda má
fé, que afasta através da distância, para longe do cenário onde pode ser detectada sua consciente, premeditada e errada opção
estratégica, transferindo para longe sua responsabilidade.
O fato é, que a crise não está lá, ela em realidade é ubiqua (holistica) e está em todos os lugares ao mesmo tempo. Hic et nunc (aqui e
agora) on line everywhere worldwide all time como um vírus de software.
A crise que vivemos é uma crise com referência ao núcleo conceitual de crédito, aquêle comércio jurídico que não se liquida
instantaneamente mas ao longo do tempo, seja à condições e/ou a termo. Este crédito em crise atinge as duas áreas do universo do
tráfico dos negócios, à pública e a privada. A pública com relação a moeda e aos seus títulos da dívida e a privada com relação a
todos os seus títulos de crédito e operações a futuro.
Atualmente o que se constata é que houve, como se fôsse, um descolamento da atividade financeira da atividade da economia real. Os
ativos financeiros inflacionados, não correspondem e ultrapassam em trilhões de dólares o valor que deveriam manter, numa relação
de direta proporcionalidade interativa, com os valores correlatos da economia real ou física.
Robert Triffin, um economista belga, que em 1960 publicou um livro intitulado Gold and the dollar crisis , foi o primeiro a detectar e
a diagnosticar o problema inflacionário com referência a circulação internacional do dolar. Para êle, o sistema de Bretton Woods
continha uma falha inerente e potencialmente fatal, seja, sua dependência em relação ao dólar. Ele argumentou que, uma vez que o
volume de comércio aumentava com o tempo, qualquer sistema de taxas fixas de câmbio necessitaria de um aumento das reservas
utilizáveis; em outras palavras, um aumento do dinheiro internacionalmente aceito, com a finalidade de financiar o comércio e
investimentos crescentes. A produção futura de ouro, a um preço fixo, não conseguiria suprir as necessidades existentes, de modo que
a fonte de liquidez internacional necessária para lubrificar o crescimento, dentro do sistema de Bretton Woods, teria de ser o dólar. O
único caminho para colocar esses dólares nas mãos do restante do mundo era o déficit na balança de pagamentos norte-americana.
Assim é, “que os criadores de Bretton Woods haviam feito, inadvertidamente, fora improvisar um sistema monetário mundial
dependente dos déficits norte-americanos, os mesmos que todos consideravam desestabilizantes, na década de sessenta. Se os déficits
dos Estados Unidos continuassem, a confiança no dólar – e posteriormente, no sistema – seria minada, e o resultado seria
instabilidade. Porém, se os déficits fossem eliminados, o restante do mundo ficaria privado dos dólares que necessitava para construir
suas reservas e financiar o crescimento econômico. Para outros países, a questão tornou-se, depois, definitiva: deter mais dólares em
suas reservas, ou trocá-los por mais ouro norte-americano. Este último caminho, provavelmente mais cedo do que tarde, forçaria os
Estados Unidos a pararem de vender ouro, um dos alicerces do sistema. O caminho anterior, deter uma quantidade crescente de
dólares, minaria inexoravelmente a confiança, uma vez que as demandas potenciais em relação aos estoques americanos de ouro
excediam em muito a quantia disponível para supri-las. Ambos os caminhos continham as sementes de sua própria desgraça na
análise que ficou conhecida como o Dilema de Triffin no qual era difícel escapar de sua lógica implacável.”(A Nova Ordem
Econômica – Paul Volcker- fl.56)
Esta é a anatomia da real crise mundial, a existência de uma bolha inflacionária não só de moeda e títulos públicos, que não dizem
respeito somente ao dólar e ao FED com o correspondente déficit americano, mas também aos déficits agregados dos demais países
que fazem parte deste sistema kafkaniano, somado ainda a este problema público, a adição de todos os débitos privados representados
pelos títulos e operações a termo. Esta é a causa da sinergia incontrolável do sistema que deflui do fulcro de sua instabilidade
inerente.
Dois economistas de renome mundial atestam a atual situação, François Chesnais, em seu livro A Mundialização do Capital,
estimando que a bolha inflacionária deve orçar mais ou menos 10 trilhões de dólares e, o polêmico, Lyndon LaRouche, que a estima
em alguma coisa como a quantia de 40 trilhões de dólares.
A exaustão e a situação limite explosiva dos vários déficits públicos a eclodirem no mundo, geram analogamente, como se fosse uma
liberação de ozônio na atmofera econômica do planeta, em que o débito inflacionário público e privado congelado como se fosse uma
calota polar, sob o efeito estufa da sinergia do hot money , instabilizando os estados, faz com o bloco da calota financeira derreta-se
inundando com sua liquidez inflacionária o sistema, tornando-o instável. É como se fosse aquela brincadeira antiga de nossos avós,
em que uma pessoa dançava com uma vassoura e alguns casais estavam sempre em pares, sendo que outros em cadeiras. Quando o
gaiteiro tocasse e desse o sinal, os pares, os sentados nas cadeiras e aquele que estivesse com a vassoura, trocavam de par e de
cadeiras, sobrando sempre, um desavisado e lerdo, para dançar com a vassoura. O exemplo, traduzido para a leitura da realidade
econômico-financeira, é de que existem pouquíssimas cadeiras, os assentos da economia real, para uma desproporção de muitas
vassouras vagas, como quocientes referenciais, nesta equação pictórica, da economia financeira fictícia, sendo que a bolha se
desinflaciona, gradativamente, na medida em que houverem parvos, não suficientemente ágeis, que paguem para entrar no baile da
economia financeira, para dançar com uma vassoura que limpa seus bolsos e investimentos.
1998