UM INIMIGO DO POVO
Quando numa sequência cruel de eventos escandalosos temos mensalões, propinodutos, zelotes, BNDES, contra a cidadania, paralelamente sofremos a ocorrência de agressões idênticas contra os consumidores como adição de soda, ácido sórbico, formol e “otras cocitas más” aos produtos lácteos; da mesma forma a operação “carne fraca” estoura um conúbio espúrio entre as maiores empresas de produção de carne e embutidos do Brasil em conluio com funcionários corruptos sempre no afã de maquiar produtos com relação à sua conservação ou constituição. Os escândalos tanto na área pública relativa à constituição do Estado Nacional como também crimes contra o consumidor atingindo a órbita da Sociedade Civil, mostram numa ampla visão, o estágio da decadência moral que vivemos onde os escrúpulos são sepultados em troca do enriquecimento ilícito tanto de agentes estatais como grandes empresários da órbita da Sociedade Civil. Criou-se no Brasil a hipótese da corrupção do capitalismo bem retratada pelo grande economista canadense John Kenneth Galbraith em sua obra “O Novo Estado Industrial”. Nesta obra ele exibe a corrupção do modelo Constitucional criado no século XVIII que teve como fundamento o Povo Soberano, corrompido, conforme demonstração de sua tese, no século XX, por um capitalismo que associado ao Estado passa a corrompe-lo alterando seu fundamento central, o Povo, transladando-o diretamente para o Poder Econômico que passa a substituir àquele. Nesta obra vemos o homem “da mala preta” que frequenta gabinetes ministeriais e de políticos comprando suas consciências e mais do que isto adulterando o Fim Público e o Bem Comum que deveriam ser o desiderato de suas funções. O Brasil de hoje, no século XXI, retrata plenamente a tese de Galbraith mas reproduz da mesma forma o tema central da ficção teatral abordada pelo célebre autor Henrik Ibsen que escreveu entre outros dramas teatrais a magistral obra “Um inimigo do Povo”. Já no seu título identifica-se na realidade o “Herói do Povo”, aventado em tese por Hegel, travestido ali, nesta peça teatral, em Inimigo do Povo pois corruptos e corruptores, que adulteram a área pública em benefício próprio, o consideram assim. No Brasil, tanto a tese de Galbraith como a ficção de Ibsen se tornam reais quando se levantam vozes que tentam calar tanto a Lava Jato como condenar ao silêncio o eco de seus crimes para que tanto a opinião pública do primeiro mundo como também importadores da Europa, Rússia e mercados tradicionais não saibam da natureza hedionda de suas práticas políticas e, respectivamente, dos malefícios do consumo de suas mercadorias adulteradas. Necessitamos comparecer em peso às ruas no dia 26 de março para que os verdadeiros heróis do povo que Ibsen retratou no personagem Dr. Stockmann possam altear sua voz em benefício da ética e do Povo que não deverão sucumbir sob a ganância desenfreada do lucro imoral que subtrai os óbices legais que obstaculizam sua gula insaciável! Coincidentemente Ibsen escreveu em 1849 sua primeira peça denominada Catilina. Cícero abriu sua primeira catilinária contra a ignorância e a ditadura exclamando: “Quosque tandem Catilina abutere patientia nostra!”